sexta-feira, 17 de agosto de 2012

Mundo Canibal

http://upload.wikimedia.org/wikipedia/en/f/f5/ManFromDeepRiverPoster.JPG
Il paese del Sesso Selvaggio. ITA. 1972. Colorido
Direção:
Umberto Lenzi
Roteiro: Francesco Barilli e Massimo D´Avak
Fotografia: Riccarco Pallottini
Música: Daniele Patucchi
Produção: Giorgio Carlo Rossi,
Ovidio G. Assonitis
Elenco: Ivan Rassimov, Me Me Lai

Sinopse: O fotógrafo John Bradley (Ivan Rassimov) está excursionando no interior da Tailândia quando é emboscado e mantido escravo em uma tribo primitiva, e tenta fugir várias vezes, até que a filha do chefe o escolhe como seu noivo. Depois de ter sido iniciado por várias torturas, ele passa a fazer parte da tribo...






Aventura que deu início ao ciclo de filmes de canibais no cinema Italiano, Il paese del Sesso Selvaggio, dirigido por Umberto Lenzi,  é bem diferente de seus sucessores. O ciclo ficou conhecido pelas mortes reais de animais, mulherada pelada e pela suposta "exploração dos nativos pelos produtores italianos picaretas". As mortes de animais e a mulherada pelada estão lá, mas o filme é bem diferente de um "Holocausto Canibal" do Ruggero Deodato ou de "Os vivos serão devorados," também dirigido pelo Lenzi. 

Talvez por ter sido o primeiro do ciclo, o filme é bem diferente de seus sucessores, há uma história de aventura a ser contada, não apenas em exploração do sensacionalismo. Algumas das sinopses que encontrei por aí passam a idéia errada que o fotógrafo é capturado por uma tribo de canibais, o que passa bem longe da verdade. Os silviculas que o capturam, tomando-o no início por um homem-peixe devido a sua roupa de mergulho (motivo pelo qual um dos nomes em inglês é "The Man From Deep River") não tem uma cultura nada agradável, mas NÃO são canibais. A tribo inimiga deles que é, pois o canibalismo não é o ponto central da trama. O filme está mais para uma versão italiana de "Um homem chamado cavalo". O filme não é um terror, e está bem longe disso. O canibalismo aparece em duas cenas nesse filme, de forma chocante e não sei se fidedigna, já que os canibais comem a carne crua e ensanguentada de seus inimigos. Sei lá, eu dava uma assada!
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O interessante nesse filme é o tratamento das semelhanças entre a cidade e a selva. No inicio do filme, ainda em Bangkoc, o fotografo inglês John Bradley (interpretado pelo ator italiano de origem sérvia Ivan Rassimov) está mais interessado em assistir Muay-Thay do que na mulher que o acompanha. Essa mesma mulher aparentemente sai com um local, que horas depois tenta matar o fotógrafo, que acaba matando o local ao se defender. Na selva, os selvagens são vidrados em sangrentas rinhas de animais. Essa associação entre as rinhas de animais e o muay-thay me fez rir pensando nessa atual "paixão nacional" pelo MMA. Qual a diferença do público de briga de galo e o do MMA? Há diferença?


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A selva se mostra diferente para John Bradley. Ao matar o homem na cidade ele passa a ser perseguido pela polícia. Ao matar um homem numa luta de lanças na Aldeia, ele é perdoado pelo próprio antes de morrer, pois ele venceu. Sim, a tribo selvagem que o capturou arranca a língua dos canibais da tribo inimiga, o que o choca a princípio por ser um ato aparente de extrema crueldade. Mas ainda hoje castram-se quimicamente estupradores e pedófilos, uma mutilação aceita por lei no estado moderno.


Na selva há similaridades com o mundo moderno: casar com a bela Maraya (vivida pela Me Me Lai, Birmanesa de pai inglês) a filha do chefe, lhe permite subir na escala social e tornar-se respeitado. Mas só apos passar pelos rituais bizarros como comer cérebro de macaco, e  peculiar cerimônia onde a noiva escolhe o noivo pela "sua pegada". John apaixona-se por ela e desiste de fugir, tornando-se um caçador respeitado por todos, exceto pelo invejoso curandeiro da tribo, que acaba amaldiçoando ele e sua esposa.


Ao enfrentar seus inimigos canibais, John acaba fazendo o que antes abominou, ao cortar a língua de seus inimigos. Apesar de sua nova posição nem John nem sua noiva podem sair desse microcosmo de tabus: grávida, ela começa a morrer diante de seus olhos, e após uma tentativa malfadada de fuga para um hospital, ambos continuam na tribo até a derradeira luta contra a tribo rival. O final se mantem fiel a ideia do longa, mas eu fiquei me perguntando: John vai continuar na tribo por causa do filho ou porque desistiu mesmo da civilização? Bem, a seu modo, Mundo Canibal é um filme bonito de se ver, se você não for dessa geração videoclipeira atual, pois seu realismo condiz justamente com a baixa produção do filme.




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O diretor Umberto Lenzi, o Ivan Rassimov e a Me Me Lay voltaram a trabalhar juntos em "Os vivos serão devorados", esse sim um exploitation de marca maior, com direito até a cobra enfiada em vaginas! A Me Me Lai tornou-se inclusive uma musa do subgênero, aparecendo também em "Último Mundo Canibal". Ao assistir esse filme, Fico pensando como seria bom se alguém com grana aparecesse para filmar o roteiro original de “Canibais e Solidão”, para ver como seria um filme desse hoje em dia, em bom português. O subgênero de Canibalismo italiano durou pouco, mas como quase tudo feito durante o auge do cinema popular italiano, deixou saudades.

 


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