sexta-feira, 10 de agosto de 2012

Cinema Super-8: Quinze anos de resistência






Já fazem 15 anos que a Kodak deixou de fabricar a bitola sonora de filmes Super-8, passando a produzir seus filmes coloridos e preto e branco sem som, por ”razões ecológicas” pois a cola da pista magnética do filme seria nociva ao meio ambiente. Eu queria saber se alguém engoliu isso algum dia. Os veículos movidos a combustíveis fósseis são com certeza uma indústria bem lucrativa e continuam poluindo por aí. Ainda acho que para a Kodak o custo não compensava a demanda e a empresa decidiu usar essa desculpa tão em voga, extinguindo então um produto que foi muito além de seus propósitos iniciais. O produto rival, o single-8 da Fuji, deixará de ser fabricado completamente esse ano, e os laboratórios japoneses, os únicos no mundo que ainda revelavam esse material deixarão de fazê-lo em 2013.

Hoje em dia a discussão é sobre se o digital é ou não cinema, ou como dizem os pessimistas quando iremos abandonar a película. Antes a discussão era aceitar o vídeo profissional como cinema ou não, o que gerou a infame (pelo menos para mim) divisão entre Cinema & Vídeo, e criou a medonha qualificação de video maker ou videasta como que para diminuir quem não tinha grana para filmar em película, distinguindo-os dos cineastas. Isso fez o formato de vídeo ser relegado ao pornô e filmes baratos e/ou independentes, alguns diretamente lançados no mercado hoje moribundo de vídeo locadoras (que na época também tinham filmes realizados em película, mas nunca lançados nos cinemas). Até aonde eu saiba, filme realizado em vídeo só passava no cinema em festivais.


Antes do videoteipe o super-8 também foi discutido como um formato válido ou não para produções cinematográficas e acabou se saindo melhor, sendo uma categoria própria em festivais, e tendo filmes completamente rodados no formato sendo exibidos em cinemas e distribuídos comercialmente. Originalmente destinado a gravações caseiras, bastou as bitolas coloridas e preto e branco do super-8 ganharem som em 1973 para o super-8 se tornar a melhor alternativa para estudantes de Cinema em seus primeiros filmes e aspirantes a cineastas a fazerem suas próprias produções amadoras, além de criar todo um mercado ponográfico de cineminhas e filmes para uso em projetores domésticos. Mas mesmo antes do som, o super-8 já era utilizado em instalações por artistas plásticos, que souberam aproveitar uma das características mais marcantes do super-8: o sonho.




O Super-8 tem uma imagem granulada característica que dá a qualquer filme realizado nesse formato um ar de fantasia, alucinógeno, bem diferente dos formatos 16 mm, 35 mm e do Grandioso 70 mm.  Acredito que mais que puro fetichismo pelo vintage, é essa magia do formato que mantém essa legião de admiradores viva até hoje. Com a aplicação de pista magnética na película é possível adicionar som num filme Super-8, e o computador permite a gravação de som na edição para adaptar o super-8 para outras películas ou em formato digital. Embora seja comum o super-8 ser utilizado em videoclipes e em sequências dentro de filmes, há filmes completamente filmados em super-8 sendo feitos hoje em dia, incluindo longa-metragem, apesar da curta duração da bitola, pouco menos de 3 minutos cada.



Apesar de bem afastada do grande público, que aliás não conhece nem os formatos digitais que dirá em película, os filmes realizados em Super-8 não param de ganhar novos admiradores e festivais inteiramente dedicados ao formato não param de surgir. O último festival dedicado completamente ao gênero surgiu em Chicago em 2011, o Chicago 8, que está recebendo filmes até o dia 30 de agosto desse ano. O Curta 8, festival brasileiro que ocorre em Curitiba, este ano terá sua 8º edição, e quando vocês estiverem lendo essa postagem, já terá encerrado suas inscrições. A grande maioria desses festivais aceita três tipos de filmes: os feitos em tomada única, que o realizador não edita, e inclusive só abre a lata na hora, vendo pela primeira vez o que filmou junto ao público; os Editados em película, geralmente curta metragens; e os finalizados em digital.


"Iaia et Leni", vencedor na categoria Tomada Única do Curta 8 2010. 

Não ser um formato comercial impossibilita orçamentos maiores e visibilidade ao grande público, por um lado; mas isso libertou o super-8 da obrigação de retorno financeiro, da previsibilidade  e mesmice e da necessidade de um argumento linear. A grande maioria dessas produções novas se enquadraria naquela definição estreita de filme de arte, ou Cult, embora hajam comédias e filmes em vários gêneros filmados no formato, que teriam bastante aceitação do grande público se tivessem uma exibição em maior escala. Atê porque o longa "Super-8" aumentou a visibilidade do formato. Isso infelizmente se refletiu no aumento do preço de algumas câmeras (Usadas, já que só se fabricam cameras Super-8 novas na Coréia do Norte!) que começaram a ser vendidas no mercado livre.

Filmes realizados em Super-8 que você não pode perder:

"It´s Abou you", documentário longa metragem que acompanha a turnê de verão de 2009 do músico John Mellencamp com Bob Dylan e Willie Nelson.


"The return of Ultraman" (1983), curta metragem de 28 minutos filmado com uma Single-8.

"The man who met himself", curta metragem de 2005. Primeiro curta super-8 a participar da mostra competitiva do festival de Cannes.




Como hoje em dia quem quer fazer cinema não precisa necessariamente de película, vide o sucesso cada vez maior dos filmes no estilo fakementary como o "Atividade Paranormal", O público superoitista é bem diferente dos de trinta e quarenta anos atrás.  Os novos superoitistas geralmente são pessoas ligadas a Fotografia, Lomografia, Teatro, Música e/ou Artes Plásticas. Eles estão preocupados com questões estéticas diferentes, e sua preocupação não é em contar uma história, mas sim em como contá-la.  Quem quer fazer cinema pode utilizar celulares e cameras digitais ou 3D, inclusive com a opção de filmar com áudio em 5.1 embutido já em algumas câmeras, um modo de fazer filmes bem diferente do velho filmar, revelar e mixar som. Mas para alguns são nessas pequenas coisas em que se reside a magia do Cinema.

Na próxima parte dessa postagem, os filmes realizados em super-8 no seu gênero mais popular: o horror!


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Vejam mais alguns vídeos e trailers em super-8 nessa página do Facebook: https://www.facebook.com/pages/Super-8/25932441119


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