Brasil, Colorido.1978.
Direção e Roreiro: Juan
Bajon
Fotografia:
Antônio Ciambra
Música: Manuel
Paiva e Luiz Chagas
Produção: R.B.McGarvin
e Luiz do Nascimento
Elenco:
Ewerton
de Castro, Renato Master, Abrahão Farc, Aldine Muller, Ivete Bonfá, Lola Brah, Marlene França, Carlos
Koppa e Mayara de Castro.
Sinopse: Uma
sucessão de homicídios a mulheres abala uma pequena cidade de São Paulo. O
assassino além de matá-las, realiza um corte em suas barrigas e retira alguns
órgãos, intrigando a polícia e assustando os moradores da região. O trabalhador
de um matadouro torna-se o principal suspeito do caso e é preso. Mas o
verdadeiro assassino ainda está à espreita...
Fazia tempo que queria
assistir esse filme, que sempre é comentado quando o assunto é cinema de gênero
brasileiro. Costuma-se dizer que fãs de cinema nacional geralmente dão um
desconto a pobreza na produção ao analisar esses filmes, fecham um olho para os
demais defeitos. Bem, para mim sempre é um prazer rever um filme nacional de 20,
30 ou 40 anos atrás, e é melhor ainda quando o filme é da Boca do Lixo paulista. Quem gosta de um gênero em específico SEMPRE
releva algumas coisas, é verdade, mas acho que quem gosta mesmo de cinema deve
relevar mesmo se quiser realmente sair da realidade e embarcar na película a
ser assistida. Mas vamos ao filme!
Apesar da temática de
assassino serial, o filme é bem diferente das produções estadunidenses que tocam
no mesmo assunto que eram feitas naquela época, que dirá atualmente. Há sangue,
mas não tripas de fora, o que pode desagradar os fãs mais tarados por gore. Mas cá entre nós, não funcionaria
mesmo. O filme também vai surpreender quem acha que só tem nudez nos filmes
brasileiros de antigamente, apesar de aparecem os seios das vítimas (afinal o
cara é um ESTRIPADOR!), não há nudez. O roteiro do filme não perdoa ninguém: a
imprensa é sensacionalista, a polícia é inepta, a população no geral é cheia de
falsos moralismos. É, e o filme é uma ficção...
Há diversas sequências de
puro nonsense, proporcionadas pelas
irmãs donas da pensão, onde morava a primeira vítima, e pela galeria de
personagens que desfilam na delegacia: vizinhas beatas e ressentidas, loucos assumindo
a culpa dos crimes e até mesmo um vidente com visual igual ao protagonista da
novela “O Astro”, que havia sido um sucesso no ano anterior (1977). O ritmo do filme é meio irregular,
mas ele (quase) nunca deixa a peteca cair. A cópia que eu assisti foi ripada de
um VHS, então a imagem não estava muito boa, mas o som estava O.K. A trilha
sonora é outro ponto de destaque, um pianinho que lembra em alguns momentos “Halloween”,
filmado no mesmo ano.
O Estripador é interpretado
pelo Ewerton de Castro em estado de graça, cheio de caras e bocas. Nessa época ele
era a cara do Jim Parsons, que interpreta o Sheldon em “The Big Bang Theory”. O personagem não é um sobre-humano; pelo
contrário, é um simples farmacêutico, com aquela cara de dominado pela mãe, um
personagem bem Nelson Rodrigues, bem brasileiro.
O personagem principal é
antipático e estúpido, fazendo com que eu torcesse pelo serial, esperando que
ele conseguisse controlar sua fúria assassina. Com exceção das figuras
conhecidas do cinema nacional da época que aparecem no filme, todo o elenco parece
ter sido recolhido na rua para atuar, o que torna algumas cenas que deviam ser
sérias, cômicas pela má atuação.
Se há algo a reclamar do
filme, para mim foi a sequência, longa e desnecessária no clube de travestis. O
estripador mata uma travesti; algumas cenas depois aparece
um longo número musical, com uma música em inglês dublada sem muito empenho. A cena se intercala com a cara de
pamonha dos policiais que estão investigando o caso. Quando a música acaba,
nada. Os policiais não interrogam ninguém no clube para justificar sua presença
ali, eles já tinham interrogado o último cliente da travesti, inclusive!
Mas o final do filme,
irônico e apoteótico, compensa tudo. Fez-me pensar que poderia existir algo
pior que o A TARDE É SUA! Não à toa,
o filme foi premiado pela Associação de Críticos de Cinema de São Paulo com os
prêmios de melhor roteiro e também melhor música. Muito bom para um trabalho de
estreia! Pena que o diretor e roteirista do filme, Juan Bajon, cineasta de origem chinesa, tenha começado
no final da década de 70, quando o cinema nacional já declinava e as produções
a seguir para fazer sucesso tinham que ter sexo explícito. Ele ainda conseguiu
fazer uns seis filmes (policiais, dramas e comédias) antes de ingressar na
pornografia hardcore, alguns filmes com zoofilia, inclusive.
Ele se deu muito bem nessa área,
produziu e dirigiu vários filmes que se pagaram e deram bastante bilheteria. Seu
último filme foi em 1989, uma coletânea de cenas com Márcia Ferro intitulada “A
vida privada de uma atriz pornô”. Fez cerca de 50 filmes no total, e ficou
conhecido pelo grande público por seus filmes de sexo sobre mulheres com
cavalos. Hoje em dia vive aposentado numa chácara no interior de São Paulo
criando cachorros e colecionando livros e filmes. Ainda escreve roteiros de
cinema, mas não participou dessa “retomada”. Em entrevista a revista Zingu!,
ele declarou que hoje o cinema nacional não é mais uma indústria, mas um esquema.
P.S.
Essa
postagem foi patrocinada pelo Sabonete Tendersol e pelo restaurante Búfalo Roxo
(acho que a piada não terá muito graça se
você não assistir ao filme!).